sábado, 25 de dezembro de 2010

Sobre a vida

Quem sou eu?
Quem é você?
Quem somos nós?
Perdida em pensamentos vagos, olho pela janela.
Lá fora a vida passa.
Hoje faz sol.

domingo, 24 de outubro de 2010

...

Sombras, vultos, formas estranhas e desconexas. Estar no mundo parecia cada vez mais difícil. Assim era acordar. Uma volta ao útero, ou melhor, uma volta à saída dele. Difícil entender como uma menina tão jovem, de tão poucos anos, uns 16 no máximo, podia ter tanto medo do novo e do amanhã. Seu mundo era preto, sombrio e por que não dizer, nefasto. Suas cores eram acromáticas. Possuía na pele o branco pálido dos dias frios e em torno dos olhos o preto arroxeado do luto. Não tinha amigos. Achava que não devia se apegar as pessoas. Elas sempre morrem. Não gostava da vida, mas odiava com muito mais força a idéia de que tudo morre. Gostava de andar. Gostava igualmente do efeito das drogas e dos comprimidos que usava. Não a deixavam feliz, mas tinham poder anestésico.

domingo, 17 de outubro de 2010

A Estação das Flores

Noite de sábado. O calor se espalhava de maneira incompreensível e inconfundível. O dia tinha sido uma merda. Muito trabalho, pouca diversão, algumas vantagens. Sempre tento levar alguma vantagem. Nem sempre dá certo. Parto rumo ao aconchego do lar. O ônibus cheio e demorado transbordante do aroma que exala do suor curtido dos trabalhadores me faz detestar a humanidade. Chego em casa com uma única certeza em mente: Não quero ficar em casa. Como de costume, abro a geladeira e procuro algo pra comer. Encontro uma maçã meio podre, duas abobrinhas cruas que não sei de onde surgiram e a garrafa de água pela metade e meio estranha. Um copo de água foi mais do que o suficiente. Resolvo sair. Tomar umas cervejas, quem sabe. Ando pelas ruas, na verdade, vago. Acho um bar. Tem baratas no balcão, mas enfim, who cares?! Pego uma mesa. O garçom manco e com uma catarata no olho esquerdo que não parava de lacrimejar veio em minha direção segurando algo que deduzi ser um pano para enxugar os copos e pratos. Parou do meu lado,esperou, me mediu e finalmente perguntou o que eu ia querer. Sentia fome, mas quando o encarei de novo percebi que secava as secreções do olho no mesmo pano que usava pra limpar as louças. Senti asco e pedi uma cerveja long neck. Bebi como se não houvesse amanhã e, quando engasguei, me dei conta que não estava no trabalho e menos ainda na hora de almoço. Pedi outra e dessa vez bebi com calma, degustando e aproveitando todo o prazer que me proporcionava o líquido gelado e amargo que descia pela minha garganta. Mais uma vez, sem porque ou motivos senti nojo das pessoas e da humanidade. Acho que faz parte da minha sina morrer na solidão.
Não acredito em destino. Tanto faz. Que me odeiem. Bebia, penava, bebia, pensava. Acho que a bebida me fez lembrar que era racional e não uma máquina. Não gosto mesmo das pessoas. Pedi a conta, me levantei, mijei e sai andando rumo ao tudo. Andar rumo ao nada é perder tempo. Pra isso ficava em casa. Muitas ruas, muitas pessoas, muitas putas. Resolvi me utilizar dessa tão nobre profissão. Muitas putas, poucas que valham a pena. Achei uma. Estava um pouco velha mas ainda assim possuia uma bela bunda e seios fartos. Gosto de seios fartos. Fomos para um motel que era cheio de estrelas. Dava pra ver o céu pelos buracos no telhado. Talvez fosse mais nojento que o bar. Ela
me olhou e veio em minha direção. Me beijou de maneira sôfrega. Não sei bem o que senti, mas não era bom. Afastei-a. Fomos pra cama. Trepamos. Acho que nunca fiz amor. Ela dormiu. Eu me lavei. Queria me desfazer do cheiro de foda com perfume barato. Me vesti, deixei o dinheiro debaixo da bolsa e saí. Sem barulhos e sem adeus. Resolvo voltar pra casa. Sempre caminhando. Reparo nas árvores. As copas estão verdes e floridas. Olho para o relógio no pulso e vejo a data. Chegou a primavera.

A Estação das Flores

Noite de sábado. O calor se espalhava de maneira incompreensível e inconfundível. O dia tinha sido uma merda. Muito trabalho, pouca diversão, algumas vantagens. Sempre tento levar alguma vantagem. Nem sempre dá certo. Parto rumo ao aconchego do lar. O ônibus cheio e demorado transbordante do aroma que exala do suor curtido dos trabalhadores me faz detestar a humanidade. Chego em casa com uma única certeza em mente: Não quero ficar em casa. Como de costume, abro a geladeira e procuro algo pra comer. Encontro uma maçã meio podre, duas abobrinhas cruas que não sei de onde surgiram e a garrafa de água pela metade e meio estranha. Um copo de água foi mais do que o suficiente. Resolvo sair. Tomar umas cervejas, quem sabe. Ando pelas ruas, na verdade, vago. Acho um bar. Tem baratas no balcão, mas enfim, who cares?! Pego uma mesa. O garçom manco e com uma catarata no olho esquerdo que não parava de lacrimejar veio em minha direção segurando algo que deduzi ser um pano para enxugar os copos e pratos. Parou do meu lado,esperou, me mediu e finalmente perguntou o que eu ia querer. Sentia fome, mas quando o encarei de novo percebi que secava as secreções do olho no mesmo pano que usava pra limpar as louças. Senti asco e pedi uma cerveja long neck. Bebi como se não houvesse amanhã e, quando engasguei, e dei conta que não estava no trabalho e menos ainda na hora de almoço. Pedi outra e dessa vez bebi com calma, degustando e aproveitando todo o prazer que me proporcionava o líquido gelado e amargo que descia pela minha garganta. Mais uma vez, sem porque ou motivos senti nojo das pessoas e da humanidade. Acho que faz parte da minha sina morrer na solidão.
Não acredito em destino. Tanto faz. Que me odeiem. Bebia, penava, bebia, pensava. Acho que a bebida me fez lembrar que era racional e não uma máquina. Não gosto mesmo das pessoas. Pedi a conta, me levantei, mijei e sai andando rumo ao tudo. Andar rumo ao nada é perder tempo. Pra isso ficava em casa. Muitas ruas, muitas pessoas, muitas putas. Resolvi me utilizar dessa tão nobre profissão. Muitas putas, poucas que valham a pena. Achei uma. Estava um pouco velha mas ainda assim possuia uma bela bunda e seios fartos. Gosto de seios fartos. Fomos para um motel que era cheio de estrelas. Dava pra ver o céu pelos buracos no telhado. Talvez fosse mais nojento que o bar. Ela
me olhou e veio em minha direção. Me beijou de maneira sôfrega. Não sei bem o que senti, mas não era bom. Afastei-a. Fomos pra cama. Trepamos. Acho que nunca fiz amor. Ela dormiu. Eu me lavei. Queria me desfazer do cheiro de foda com perfume barato. Me vesti, deixei o dinheiro debaixo da bolsa e saí. Sem barulhos e sem adeus. Resolvo voltar pra casa. Sempre caminhando. Reparo nas árvores. As copas estão verdes e floridas. Olho para o relógio no pulso e vejo a data. Chegou a primavera.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

domingo, 5 de setembro de 2010

VIÚVA NEGRA

Mais uma noite comum e ordinária. A mesma rotina de sempre.
Cansada de ficar em casa, se levantou, tomou um banho ligeiro e, depois de se vestir, passou ao ritual demorado e falho da maquilagem.
Começou com um creme de cor repugnante e cheiro mais repugnante ainda. Por cima colocou uma base mais escura que sua pele, o que lhe dava um ar de pessoa velha e vulgar. Na dúvida entre que sombra usar acabou escolhendo uma de cor forte e vibrante, o que vulgarizou mais seu aspecto. Por cima dos cílios postiços presos com cola barata passou o rímel negro que aprofundava suas olheiras. Duas rodelas alaranjadas ornavam sua face e sua boca, completando o quadro de horrores formado, reluzia em um vermelho sangrento e provocante.
Olhou a imagem produzida pelo espelho e, muito satisfeita, fez um sinal de aprovação. Saiu.
Não tinha aonde ir, nem tampouco a quem encontrar. Pensou e resolveu andar na praia mesmo achando sua produção muito pouco adequada.
Chegou a Copacabana por volta de 22h. A praia estava deserta e o vento vindo do mar era gelado. Achou engraçado não encontrar nenhum velhinho passeando com cachorros. Não se deu conta do horário.
Caminhou por quase toda a orla e decidiu que queria dançar. Resolveu pegar o metrô e ir para a Lapa.
No caminho foi confundida com uma prostituta e se sentiu ofendida por não terem percebido toda sua classe e elegância. O vestido "tubinho" preto e a maquiagem perfeita, além da sandália de marca, caríssima que comprara em um dia de loucura, mostravam seu bom gosto.
Pegou o metrô e se sentou entre uma senhora que levava seu filho, provavelmente para a igreja, e um senhor, bem idoso, que não parava de olhar suas perna e piscar. A senhora, que não parava de encará-la e dizer coisas indistinguíveis se levantou, sentou-se no banco oposto e, visivelmente incomodada, resolveu descer na estação que se aproximava. Mais uma vez não compreendeu o que fazia com que pensassem mal de sua pessoa.
Chegou na Cinelândia e começou a caminhar em direção aos Arcos. Quando estava em frente ao Goethe um rapaz distinto e bem arrumado lhe abordou. Achando-o interessante, começaram uma conversa e seus passos solitários passaram a ser acompanhados.
Andaram até os Arcos e pararam.
Um samba tocava e, ao redor do som abafado das vozes que sumiam misturadas ao barulho dos instrumentos, pessoas se aglomeravam e se sacudiam em uma espécie de dança sensual e ritualística que lembrava Baco.
Resolveram parar ali. Beberam, dançaram e quanto mais dançavam mais ela se sentia envolvida por ele.
Começaram a flertar. Carícias foram surgindo e a intimidade se tornando maior. Quando o desejo chegou ao seu ápice, resolveram ir a um lugar mais discreto.
Não era do tipo de mulher que se envolvia facilmente, mas precisava daquilo. Queria se entregar a alguém que lhe desse valor. Como era precavida sugeriu irem para a parte traseira do "Circo Voador", perto das árvores. Assim estaria segura. Foram.
Pararam perto de uma árvore e começaram a se beijar de forma dura e vigorosa. O sexo se fazia iminente e deixava seu cheiro no ar. As mãos se entrelaçavam como que para evitar a fuga. Suspiros sôfregos se faziam ouvir. Suor e saliva escorriam pela pele.
A mão livre do distinto cavalheiro subia e descia por seu corpo suado reconhecendo cada parte do território. Ela tremia de desejo e se dava como se fossem almas gêmeas.
Ele levantou o vestido, puxou sua calcinha para baixo e a penetrou. Sua vontade era tão grande que não pode se conter por muito tempo. Gozou. Estava feliz. Tinha reencontrado o amor depois de acabar o relacionamento anterior de forma tão cruel e dolorida. Motivo suficiente para recuperar seu vigor. Ela se arrumava enquanto ele se preparava para continuar. Achando ser correspondido, esperava calmamente. Ela abriu a pequena bolsa de mão e dela sacou uma faca de caça. Ele, distraido, não notou. Ela o chamou e ao virar, de um único golpe, decepou seu pênis.
Desesperado com a dor e pela traição tentou gritar, mas a dama de negro foi mais rápida e com um corte preciso acertou sua jugular. Seus movimentos pareciam treinados. Esperou o sangue jorrar e o corpo cair, inerte. Limpou sua faca, recolheu o pênis que envolveu delicadamente em um lenço de seda bordado com flores rosas e saiu, contornado o "Circo", cantarolando a música que ecoava ao longe.
No dia seguinte os jornais noticiavam: "Viúva Negra ataca outra vez.". E ela, distinta e elegante se preparava para mais um dia de trabalho na casa de massagem.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Um amor de carnaval

Noite de carnaval no Rio de Janeiro. No largo da Carioca uma bela colombina caminha ébria e solitária, mas ainda assim, feliz. Ela canta à sua vida e aos seus ex-amores. Sempre muito feliz. Seguindo em frente e cambaleante ela acaba por esbarrar em um jovem pierrot. Achando o ocorrido um tanto quanto ridículo, ela pede desculpas de um modo doce e um tanto quanto insinuante. O pierrot aceita o galanteio e passa a flertar com a colombina. Um típico caso de carnaval. Um amor profundo e profano invade a ambos. Torna-se inevitável, o sexo passa a rondar os beijos tórridos e longos do casal de caricaturas. Tola, apaixonada e privada dos sentidos pelo álcool ela se deixa ser conduzida pelo amado para um canto escuro e reservado onde o amor enfim se concretizaria tendo como únicas testemunhas a estátua do centro da praça e os pombos. Os beijos se tornam mais intensos e o pierrot passa a usar sua força de forma mais intensa. Achando ser devido ao calor da relação a colombina se deixa ser machucada, porém, ao perceber que por parte da colombina não havia reação o pierrot passou a apertá-la com mais força, e mais força, e mais força. A mão no pescoço deixou de ser a mão do afago e passou a ser a mão da tortura. A colombina se retorcia e tentava gritar. Chorava e se debatia. Seus pés já não tocavam mais o chão. Suas mãos trêmulas se afrouxavam. Seus suspiros cessavam enquanto, com a outra mão por dentro das calças, o pierrot se tocava. Quanto mais a colombina tentava se soltar, mais próximo do gozo chegava o pierrot. Uma última tentativa de se soltar da colombina e o gozo do pierrot. A rua continuava deserta. O corpo inerte da colombina tombou ao solo. Ao longe se ouvia o som das marchinhas. O pierrot se arrumou enquanto assobiava a música vinda de longe. Estava pronto. Partiu rumo ao desfile do bloco. Como um vídeo que rebobina, refez o caminho que havia feito para chegar aonde, agora, repousava o corpo da colombina. Assobiava de forma graciosa e harmoniosa a marchinha da vez: "eu sou aquele pierrot que te abraçou e te beijou meu amor...". Quando por fim alcançava a rua, esbarrou em uma linda, ébria e feliz colombina.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

"ninguém é escritor por haver decidido dizer certas coisas, mas por haver decidido dizê-las de determinado modo." - Sartre.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Viver

Olho pela janela. Está nublado, mas o sol mostra, pouco a pouco, sua vontade de reinar.
Faz calor. Sinto frio. Na verdade, tudo está frio e úmido e cinza e triste. Penso sobre a vida, penso sobre mim, penso. O que devo fazer? O que faço sem dever? Lealdade, fidelidade, amor. Eu amo, tu amas, ele me ama. A vida é tortuosa, mas ainda assim, me mantenho virtuosa. Taí: EU ODEIO O SUFIXO -OSO. O que eu escrevo é o que eu sou. Está tudo uma bagunça. Por isso virei cigana. Vida...por que tornamos difícil a coisa mais simples que existe? O ser humano me enche. Transbordo. Me perco, me acho, me perco. Sempre perco.

domingo, 4 de julho de 2010

Nota de um bloco esquecido

Tudo começou como em um dia qualquer. A mesma luz, o mesmo café e um novo eu com um único porém: havia som e no som eu ouvia a surdez do silêncio.
A rotina me invadiu. Levantei, comi, tomei um banho rápido e frio, vesti uma roupa amarrotada - acho que estava suja- e saí.
A mesma pessoa, outra aula: " the book is on the table..." - Quem é o sujeito?
Eu! Eu sou o sujeito. Um ser sujeito a tudo e ao mesmo tempo a nada.
Senti uma dor no peito. Ignoro. Tenho mais a fazer do que sofrer, pensei.
Eu sempre penso.

Seguindo estrelas

...abriu os braços em cruz e, de costas, se lançou entre os carros rumo à redenção. Nunca se sentiu tão feliz. Pela última vez olhou as estrelas e, quanto mais rápido caia, mais sentia a sensação de poder tocá-las. Fechou os olhos e finalmente cessou-se a queda.
Os sinais abrem, fecham e os faróis dos carros não param de piscar. É noite na cidade de São Paulo.

quarta-feira, 7 de abril de 2010