domingo, 24 de outubro de 2010

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Sombras, vultos, formas estranhas e desconexas. Estar no mundo parecia cada vez mais difícil. Assim era acordar. Uma volta ao útero, ou melhor, uma volta à saída dele. Difícil entender como uma menina tão jovem, de tão poucos anos, uns 16 no máximo, podia ter tanto medo do novo e do amanhã. Seu mundo era preto, sombrio e por que não dizer, nefasto. Suas cores eram acromáticas. Possuía na pele o branco pálido dos dias frios e em torno dos olhos o preto arroxeado do luto. Não tinha amigos. Achava que não devia se apegar as pessoas. Elas sempre morrem. Não gostava da vida, mas odiava com muito mais força a idéia de que tudo morre. Gostava de andar. Gostava igualmente do efeito das drogas e dos comprimidos que usava. Não a deixavam feliz, mas tinham poder anestésico.

domingo, 17 de outubro de 2010

A Estação das Flores

Noite de sábado. O calor se espalhava de maneira incompreensível e inconfundível. O dia tinha sido uma merda. Muito trabalho, pouca diversão, algumas vantagens. Sempre tento levar alguma vantagem. Nem sempre dá certo. Parto rumo ao aconchego do lar. O ônibus cheio e demorado transbordante do aroma que exala do suor curtido dos trabalhadores me faz detestar a humanidade. Chego em casa com uma única certeza em mente: Não quero ficar em casa. Como de costume, abro a geladeira e procuro algo pra comer. Encontro uma maçã meio podre, duas abobrinhas cruas que não sei de onde surgiram e a garrafa de água pela metade e meio estranha. Um copo de água foi mais do que o suficiente. Resolvo sair. Tomar umas cervejas, quem sabe. Ando pelas ruas, na verdade, vago. Acho um bar. Tem baratas no balcão, mas enfim, who cares?! Pego uma mesa. O garçom manco e com uma catarata no olho esquerdo que não parava de lacrimejar veio em minha direção segurando algo que deduzi ser um pano para enxugar os copos e pratos. Parou do meu lado,esperou, me mediu e finalmente perguntou o que eu ia querer. Sentia fome, mas quando o encarei de novo percebi que secava as secreções do olho no mesmo pano que usava pra limpar as louças. Senti asco e pedi uma cerveja long neck. Bebi como se não houvesse amanhã e, quando engasguei, me dei conta que não estava no trabalho e menos ainda na hora de almoço. Pedi outra e dessa vez bebi com calma, degustando e aproveitando todo o prazer que me proporcionava o líquido gelado e amargo que descia pela minha garganta. Mais uma vez, sem porque ou motivos senti nojo das pessoas e da humanidade. Acho que faz parte da minha sina morrer na solidão.
Não acredito em destino. Tanto faz. Que me odeiem. Bebia, penava, bebia, pensava. Acho que a bebida me fez lembrar que era racional e não uma máquina. Não gosto mesmo das pessoas. Pedi a conta, me levantei, mijei e sai andando rumo ao tudo. Andar rumo ao nada é perder tempo. Pra isso ficava em casa. Muitas ruas, muitas pessoas, muitas putas. Resolvi me utilizar dessa tão nobre profissão. Muitas putas, poucas que valham a pena. Achei uma. Estava um pouco velha mas ainda assim possuia uma bela bunda e seios fartos. Gosto de seios fartos. Fomos para um motel que era cheio de estrelas. Dava pra ver o céu pelos buracos no telhado. Talvez fosse mais nojento que o bar. Ela
me olhou e veio em minha direção. Me beijou de maneira sôfrega. Não sei bem o que senti, mas não era bom. Afastei-a. Fomos pra cama. Trepamos. Acho que nunca fiz amor. Ela dormiu. Eu me lavei. Queria me desfazer do cheiro de foda com perfume barato. Me vesti, deixei o dinheiro debaixo da bolsa e saí. Sem barulhos e sem adeus. Resolvo voltar pra casa. Sempre caminhando. Reparo nas árvores. As copas estão verdes e floridas. Olho para o relógio no pulso e vejo a data. Chegou a primavera.

A Estação das Flores

Noite de sábado. O calor se espalhava de maneira incompreensível e inconfundível. O dia tinha sido uma merda. Muito trabalho, pouca diversão, algumas vantagens. Sempre tento levar alguma vantagem. Nem sempre dá certo. Parto rumo ao aconchego do lar. O ônibus cheio e demorado transbordante do aroma que exala do suor curtido dos trabalhadores me faz detestar a humanidade. Chego em casa com uma única certeza em mente: Não quero ficar em casa. Como de costume, abro a geladeira e procuro algo pra comer. Encontro uma maçã meio podre, duas abobrinhas cruas que não sei de onde surgiram e a garrafa de água pela metade e meio estranha. Um copo de água foi mais do que o suficiente. Resolvo sair. Tomar umas cervejas, quem sabe. Ando pelas ruas, na verdade, vago. Acho um bar. Tem baratas no balcão, mas enfim, who cares?! Pego uma mesa. O garçom manco e com uma catarata no olho esquerdo que não parava de lacrimejar veio em minha direção segurando algo que deduzi ser um pano para enxugar os copos e pratos. Parou do meu lado,esperou, me mediu e finalmente perguntou o que eu ia querer. Sentia fome, mas quando o encarei de novo percebi que secava as secreções do olho no mesmo pano que usava pra limpar as louças. Senti asco e pedi uma cerveja long neck. Bebi como se não houvesse amanhã e, quando engasguei, e dei conta que não estava no trabalho e menos ainda na hora de almoço. Pedi outra e dessa vez bebi com calma, degustando e aproveitando todo o prazer que me proporcionava o líquido gelado e amargo que descia pela minha garganta. Mais uma vez, sem porque ou motivos senti nojo das pessoas e da humanidade. Acho que faz parte da minha sina morrer na solidão.
Não acredito em destino. Tanto faz. Que me odeiem. Bebia, penava, bebia, pensava. Acho que a bebida me fez lembrar que era racional e não uma máquina. Não gosto mesmo das pessoas. Pedi a conta, me levantei, mijei e sai andando rumo ao tudo. Andar rumo ao nada é perder tempo. Pra isso ficava em casa. Muitas ruas, muitas pessoas, muitas putas. Resolvi me utilizar dessa tão nobre profissão. Muitas putas, poucas que valham a pena. Achei uma. Estava um pouco velha mas ainda assim possuia uma bela bunda e seios fartos. Gosto de seios fartos. Fomos para um motel que era cheio de estrelas. Dava pra ver o céu pelos buracos no telhado. Talvez fosse mais nojento que o bar. Ela
me olhou e veio em minha direção. Me beijou de maneira sôfrega. Não sei bem o que senti, mas não era bom. Afastei-a. Fomos pra cama. Trepamos. Acho que nunca fiz amor. Ela dormiu. Eu me lavei. Queria me desfazer do cheiro de foda com perfume barato. Me vesti, deixei o dinheiro debaixo da bolsa e saí. Sem barulhos e sem adeus. Resolvo voltar pra casa. Sempre caminhando. Reparo nas árvores. As copas estão verdes e floridas. Olho para o relógio no pulso e vejo a data. Chegou a primavera.