quarta-feira, 28 de julho de 2010

Um amor de carnaval

Noite de carnaval no Rio de Janeiro. No largo da Carioca uma bela colombina caminha ébria e solitária, mas ainda assim, feliz. Ela canta à sua vida e aos seus ex-amores. Sempre muito feliz. Seguindo em frente e cambaleante ela acaba por esbarrar em um jovem pierrot. Achando o ocorrido um tanto quanto ridículo, ela pede desculpas de um modo doce e um tanto quanto insinuante. O pierrot aceita o galanteio e passa a flertar com a colombina. Um típico caso de carnaval. Um amor profundo e profano invade a ambos. Torna-se inevitável, o sexo passa a rondar os beijos tórridos e longos do casal de caricaturas. Tola, apaixonada e privada dos sentidos pelo álcool ela se deixa ser conduzida pelo amado para um canto escuro e reservado onde o amor enfim se concretizaria tendo como únicas testemunhas a estátua do centro da praça e os pombos. Os beijos se tornam mais intensos e o pierrot passa a usar sua força de forma mais intensa. Achando ser devido ao calor da relação a colombina se deixa ser machucada, porém, ao perceber que por parte da colombina não havia reação o pierrot passou a apertá-la com mais força, e mais força, e mais força. A mão no pescoço deixou de ser a mão do afago e passou a ser a mão da tortura. A colombina se retorcia e tentava gritar. Chorava e se debatia. Seus pés já não tocavam mais o chão. Suas mãos trêmulas se afrouxavam. Seus suspiros cessavam enquanto, com a outra mão por dentro das calças, o pierrot se tocava. Quanto mais a colombina tentava se soltar, mais próximo do gozo chegava o pierrot. Uma última tentativa de se soltar da colombina e o gozo do pierrot. A rua continuava deserta. O corpo inerte da colombina tombou ao solo. Ao longe se ouvia o som das marchinhas. O pierrot se arrumou enquanto assobiava a música vinda de longe. Estava pronto. Partiu rumo ao desfile do bloco. Como um vídeo que rebobina, refez o caminho que havia feito para chegar aonde, agora, repousava o corpo da colombina. Assobiava de forma graciosa e harmoniosa a marchinha da vez: "eu sou aquele pierrot que te abraçou e te beijou meu amor...". Quando por fim alcançava a rua, esbarrou em uma linda, ébria e feliz colombina.

2 comentários:

  1. Naveguei na simplicidade da adoração quando li este seu conto, Marianna. Ele é duro. Cruel. Real. Escrito de maneira dura. Cruel. Real. Me identifico com uma literatura assim.

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